segunda-feira, 19 de julho de 2010

Respirou, mas ninguém percebeu. Gritou, mas ninguém deu ouvidos. Sentiu tudo a sua volta, cada palavra não dita, cada olhar perdido. Pulsou, bateu, descompassado. Imperceptível. Entrou em falso óbito. Todos lamentaram sua morte, mas ela recusou-se a aceitar. Acreditava que fosse durar pra sempre, que seria eterno. Recusou a despedir-se, segurou o choro com as unhas, virou as costas e foi embora.
Procurava por um lugar calmo, onde pudesse se abrigar do frio e da chuva. A noite escura trazia as lembranças, ainda recentes. Podia sentir o calor daquele abraço, e por algum momento, jurou ouvir sua voz calma, sentir o seu cheiro...Como você pode me deixar aqui? Perguntava-se.
Abriu os olhos, sentiu-se sufocado. Caiu em desespero. Gritava, esperneava, mas ninguém podia ouvi-lo. Era tudo escuridão. Havia pouco espaço, pouco ar, pouco tempo. Parou por um instante, incrédulo. Controlou a respiração, deixando-a mansa, mas não pode controlar as lágrimas. Lembrou de suas últimas palavras antes de dormir, elas ainda estavam ali. Não haviam saído de sua boca. Nunca chegaram aos ouvidos dela.
Não conteve o choro. Mesmo em silêncio, era um choro ensurdecedor. Sentada em frente à janela, olhava para o céu. Nunca o viu tão escuro e gelado. Seus olhos molhados nem se quer piscavam. Em frente à janela, estava distante. A medida que seus pensamentos tomavam conta de seu quarto escuro, adormecia.
Preparou-se para seus últimos suspiros. Com a luz do relógio, clareou seu teto, onde com grande esforço, foi capaz de talhar à unha, a sua última mensagem em vida:
"Faria alguma diferença se eu te dissesse que nunca ninguém te amou como eu te amo?" Até o último suspiro. Seus olhos fecharam-se, sua respiração cessou. Seu coração, que em vida carregou um amor letárgico, parou.
Acordou no meio da noite. Sentiu uma inquietação, um aperto no peito que doía na alma. Sua respiração estava ofegante. Parece loucura, pensou duas vezes. Mas na terceira, já estava decidida de que não seria tarde.