terça-feira, 28 de dezembro de 2010

PARTE 1 - A Mulher da estrada (continuação).

Miguel tentava buscar alguma explicação para o que acabara de acontecer. Mas a serenidade daquela garota que dormia ao seu lado, o deixava completamente extasiado. Não conseguia pensar em nada. Ele, que saiu de casa aos 18 anos, com o velho Mustang que ganhou do seu avô e com um violão, nunca mais saiu da estrada. Pelas cidades por onde passou, fez amigos, mas na estrada da vida, sempre esteve sozinho. Mas depois do último Km por onde passou, Miguel sentiu que algo estava para mudar na sua vida. Aquela garota que entrou no seu velho Mustang naquela noite, não iria sair tão cedo.
Já era aproximadamente 2:30 am. O café morno já não fazia o mesmo efeito e a lua, que sempre o acompanhava, resolvera esconder-se entre as nuvens, que apareceram para fazer parte da viagem. A cidade mais próxima ficava a 100 Km daquele ponto e, segundo o mapa que Miguel carregava na memória, havia um posto de combustível juntamente com uma pequena pousada, há 10 Km. Mas o sono estava mais perto, e para manter-se na pista, o rádio toca-fitas tinha que fazer o seu trabalho. Miguel sussurrava junto com a vós que saía do toca-fitas:

"I'll go for miles
Till I find you
You say you want to leave me
But you can't choose
I've gone thru pain
Every day and night
I feel my mind is going insane
Something I can't fight

Don't leave me

A blank expression
Covering your face
I'm looking for directions
For out of this place
I start to wonder
If you'll come back
I feel the rain storming after thunder
I can't hold back..."

Nesse momento, a garota resmungou e virou as costas para Miguel. Com um movimento brusco, seu cabelo acabou revelando metade do que parecia ser uma tatuagem em sua nuca. Miguel olhou para a tatuagem, sem se descuidar com a estrada, mas não conseguia vê-la totalmente. Com muito cuidado, ele tentou descobrir o restante da nuca da jovem, e enfim pode ver do que se tratava. Era algum tipo de símbolo, o qual ele nunca tinha visto em nenhum outro lugar.

Com a mão esquerda no volante, e a direita segurando os cabelos, que roçavam na nuca dela, Miguel tentou por alguns segundos entender o que aquele símbolo significava. Foi quando ela acordou e se virou assustada para ele:
- O que você está fazendo? - disse ela, olhando fixamente para os olhos dele, assustada.
- Desculpa, não fiz por mal, estava apenas olhando sua tatuagem. - disse ele, agora com as duas mãos fixas no volante, e os olhos voltados com atenção para a estrada.
- Tatuagem? - retrucou ela.
- Sim, tem uma tatuagem na sua nuca, percebi quando você virou para o lado, enquanto dormia. É algum símbolo estranho, nunca tinha visto antes. - respondeu Miguel.
- Não quero que você fique procurando por símbolos estranhos no meu corpo enquanto eu durmo. - disse ela, com um pouco de bravura na sua voz suave.
- Tudo bem, me desculpa, isso não vai mais acontecer.
Ela não respondeu, apenas olhou para o lado. Os dois manteram o silêncio por algum tempo, até que Miguel voltou a falar:
- O que significa?
- O quê? - respondeu ela, distraída.
- A tatuagem, qual o significado dela? - insistiu Miguel.
- Eu não sei, eu nem sabia que tinha uma tatuagem na minha nuca. - disse ela, ainda olhando para o lado, onde a lua começava a exibir-se novamente.
Em meio a escuridão daquela longa estrada deserta, onde o luar dava um pouco de brilho, surge uma luz. Era a pousada juntamente com o posto de combustível, os quais Miguel já esperava que estivessem ali. Ao percebê-la, a garota voltou o rosto para ele, e com a voz suave novamente, perguntou:
- O que é aquela luz?
- É onde vamos parar para passar a noite. - respondeu, olhando para a moça.
- Então você também costuma dormir? - disse ela, com tom irônico.
- Sim, em lugares assim como este, não no meio da estrada. - agora olhando para ela com um sorriso no rosto.
- Sem graça você. - olhando para o lado, segurando um sorriso no canto da boca.
- Vamos abastecer, tomar banho e dormir. Amanhã cedo partiremos. - disse Miguel.
- Nós não vamos comer? - perguntou ela
- A essa hora da madrugada, não deve ter nada para nós. - respondeu ele.
- Mas eu to com fome, você não vai fazer nada? - indignada.
- Tem biscoitos no porta-luvas.