O Pacto
"A data é 26 de novembro de 2005. O local é o vestiário abafado e impregnado com cheiro forte de tinta do estádio dos Aflitos, em Recife. Tranquilamente a temperatura beira os 50 graus. Um verdadeiro inferno.
Nosso personagem está sentado em um canto, sob um banco vermelho de madeira. Está empapado em suor. Mãos na cabeça, olhos fixos no chão. Coração acelerado. Busca lá no fundo do peito um pouco de oxigênio. Luta para não deixar o desespero tomar conta. Não era pra menos, minutos antes, o juiz havia marcado o segundo pênalti contra o Grêmio e expulsado três jogadores. O Náutico estava prestes a fazer o gol da vitória. Todo o trabalho de um ano estava caindo pelo ralo. Era apenas isso que passava pela cabeça. Tanto trabalho, tanta luta, tanta dedicação. Tudo indo por água abaixo.
Não era justo. Pensava na família, nos amigos, na torcida gremista que estava em Porto Alegre e que sonhava com a volta à elite do futebol brasileiro. Ele havia assumido o risco e estava falhando. Com as lágrimas misturadas ao suor que escorria pelo rosto, ele pediu ajuda. Faria qualquer coisa para que aquilo tudo terminasse diferente.
Ainda com a cabeça baixa, sentiu a presença de alguém ao seu lado. Lentamente, voltou-se para sua esquerda se deparando com aquela figura bizarra. Assustado, perguntou:
- Quem é você?
- Não imposta quem eu sou. O que importa é que estou aqui para te ajudar. Vim propor um pacto.
- Pacto? Que pacto?
- Você sabe que eu tenho poder de fazer o seu goleiro pegar esse pênalti. Muito mais que isso. Tenho poder de fazer seu time chegar à vitória.
- Você está louco! Isso é impossível! Estamos com sete jogadores em campo, não percebeu?
- Aceite a minha oferta e você verá.
- Lógico que aceito. Não tenho outra opção. Qual é o pacto?
- O Grêmio não perderá esse jogo. Seu goleiro defenderá o pênalti e vocês vão fazer 1 a 0 mesmo com sete jogadores. Serão os campeões e retornarão à elite do futebol brasileiro. Além disso, em menos de dois anos, estarão de volta em uma final de Copa Libertadores. Não vão vencer, mas estarão lá. Incrédulo, nosso personagem escuta a proposta.
- Eu aceito. O que tenho que fazer? Se tiver que vender a minha alma, eu vendo.
- Você não tem que fazer nada. O que vai acontecer é que, num período de cinco anos, seu maior adversário irá igualar suas conquistas.
- Como assim?
- É isso que você ouviu: em cinco anos, seu maior adversário vai ganhar tudo que vocês ganharam até hoje. Inclusive aquele título.
Atordoado e sem condições de raciocinar, nosso personagem ainda teve tempo de perguntar:
- E depois destes cinco anos tudo volta ao normal?
- Sim. Depois destes cinco anos, tudo estará em suas mãos outra vez. É pegar ou largar. Topa?"
Faltam cinco dias para o pacto chegar ao fim.